Estamos a chegar ao fim de 2020. Como em outros anos é tempo de balanço e análise. Mas neste ano obviamente não é possível escapar ao tema pandemia e suas consequências, que se tornou central na nossa rotina. Apesar do ano de 2020, que agora se finaliza, se ter tornado o ANO das nossas vidas, pelas piores razões, importa filtrar no meio de tanta adversidade, o que de melhor aconteceu e se evidenciou. E da nossa memória próxima lembramos e sistematizamos muitos eventos que aconteceram a nível nacional e internacional:
- O esforço e resiliência das equipas de saúde, muitas vezes subdimensionadas;
- O esforço e resiliência de todos aqueles que asseguraram as cadeias logísticas nos confinamentos e nos permitiram no dia-a-dia ter algum conforto;
- O esforço conjunto na aplicação de todo o saber na procura de uma nova vacina, começando pelo reconhecimento das características do novo vírus e desenvolvimento de uma nova vacina com a sua experimentação em tempo recorde;
- Os esforços no reconhecimento de novas formas de terapia e de otimização das existentes;
- A utilização de todo o saber na interpretação e extrapolação dos dados;
- Os conglomerados industriais de maior ou menor dimensões que foram trazendo inovação, apoiando as necessidades reconhecidas a cada dia;
- A solidariedade entre vizinhos e para os idosos, em todas as suas formas;
- A ampliação da solidariedade para os mais desfavorecidos;
- A capacidade imensa de aprendizagem e de adaptação das populações, em todos os seus sectores.
- A abnegação de todos, aceitando medidas, muitas vezes dolorosas de afastamento, sacrifico e limitação da liberdade, (liberdade só então percebida);
- A criação de mecanismos de compensação para o furacão económico que arrasou grande parte da economia, que embora insuficientes, serviram e servem de base para a expectativa do desenvolvimento futuro.
Um aspeto relevante, e potencialmente esquecido, é que muitos dos pontos acima descritos da gestão da pandemia, se ligam de modo muito claro, com a existência de um Serviço Nacional de Saúde Português que concretizando o direito à proteção da saúde, a prestação de cuidados globais de saúde e o acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica e social, permitiu uma resposta otimizada, frente à dimensão e complexidade do problema e ao desconhecimento dos vários fatores em presença e da sua evolução.
Se de facto estes eventos globais da pandemia, são reconhecidos por todos, aspetos mais limitados no tempo e no espaço ficam esquecidos em nichos que importa divulgar. E aqui tenho de falar no Centro de Sangue e Transplantação do Porto (CSTP), obviamente por dever mas também e fundamentalmente por orgulho. Quando em março de 2020 a Organização Mundial da Saúde declarou a infeção por SARS-COV2 uma pandemia, encontrava-se o CSTP no meio da integração da área da transplantação no edifico da Rua de Bolama. Obra complexa, com múltiplos movimentos das infraestruturas de modo a permitir a continuidade das operações: laboratórios e sala de colheita em contentores, auditório transformado em openspace para trabalho administrativo, movimentação e recolocação de pessoal em áreas transitórias. E depois lentamente, à medida que os trabalhos evoluíram o regresso à nova normalidade, o que no caso foi a integração da transplantação, que se concluiu em junho de 2020. Só graças ao esforço, disponibilidade e compreensão de todos os profissionais do CSTP, foi possível fazer esta obra que envolveu e remodelou todo o piso térreo, melhorando significativamente as condições de trabalho e de acesso tanto dos profissionais como dos doentes e dadores que usufruem da obra. E tudo isto foi feito à medida que se instalaram novas rotinas e se assumiram novos comportamentos, relacionadas com a pandemia e com o estabelecimento de diferentes versões do plano de contingência: uso de máscaras, distanciamento físico, higienização e desinfeção de superfícies, alteração da logística de transportes, da sala de refeições, ações de formação e informação…. Para responder a estes requisitos foi necessário reequacionar a dimensão das sessões de colheita móveis e procurar novos espaços para o fazer. Tudo isto na região com maior incidência de casos, com mais mortes e com mais limitações. Assim é de realçar o empenho de toda a equipa do Centro de Sangue e Transplantação do Porto, que mesmo em momentos mais difíceis conseguiu manter a unidade e ultrapassar as dificuldades. É com muito orgulho que escrevo estas palavras.
Se é certo que existem marcas, sociais, económicas e pessoais que se tornarão indeléveis temos de acreditar na nossa capacidade regenerativa, e ter a certeza de que o futuro será risonho, e como em muitas outras coisas da nossa vida, iremos pouco a pouco esquecendo o pior e tornando mais vivo o que de bom aconteceu.
Fulcral neste momento é olharmos com esperança para a nova luz, que pouco a pouco se vai materializando, credibilizando a vacinação e acreditando que os homens de ciência, os políticos e os governantes nunca poriam em causa a segurança comum e que ao contrário das tendências negacionistas ou de conspiração, o problema pandémico existe, pode e tem de ser enfrentado com vigor e que temos na nossa humanidade ferramentas capazes para o fazer.
Desejo a todos Festas Felizes passadas com saúde, paz e harmonia, e acima de tudo com muita Esperança, na presença dos que vos são queridos.
Jorge Condeço
Diretor Técnico do Centro de Sangue e da Transplantação do Porto
Veja aqui o vídeo com a mensagem de Boas Festas