No passado dia 20 de julho comemorou-se o Dia Nacional da Doação e de Órgãos e da Transplantação, após a sua institucionalização a 20 de julho de 2019 (Despacho n.º 5975/2019, de 26 junho de 2019), para assinalar a data de realização do primeiro transplante de órgãos em Portugal, um transplante renal com dador vivo, realizado há 50 anos nos Hospitais da Universidade de Coimbra, por uma equipa médica liderada pelo Professor Linhares Furtado.
Este dia encerra também em si um merecido «reconhecimento aos dadores e famílias, aos profissionais de saúde, assim como para recordar à sociedade que a doação de órgãos ajuda a salvar a vida ou contribui para melhorar a qualidade de vida de muitos doentes, tornando, assim, mais conhecido o seu significado», não esquecendo outros importantes e cruciais intervenientes que contribuem para o sucesso desta nobre atividade, como a Força Aérea Portuguesa e a Guarda Nacional Republicana.
O webinar realizado no âmbito desta efeméride (ver programa aqui) organizado pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST, IP) em parceria com a Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT) contou com a sua abertura pela Presidente do IPST, IP, a Dra Maria Antónia Escoval, seguida de uma intervenção da Dra Susana Sampaio, Presidente da SPT, após a qual houve lugar à apresentação de um vídeo intitulado “Pioneiros da Transplantação” no qual se abordou de forma cronológica o percurso, desenvolvimento e evolução da atividade da transplantação em Portugal através dos testemunhos dos próprios.
Houve ainda lugar para a divulgação do primeiro transplante renal cruzado internacional com a contribuição da Força Aérea Portuguesa, pela Dra Margarida Ivo da Silva, Coordenadora Nacional da Transplantação, assim como foram também divulgados os dados da atividade nacional de doação e transplantação em 2019.
A transplantação representa um dos maiores avanços na medicina do século XX, representando, na maioria dos casos, o único tratamento eficaz para a falência de um órgão, permitindo a sobrevivência e o aumento da qualidade de vida do doente. Para tal é, no entanto, imprescindível a existência de um número de órgãos disponíveis para transplantação em quantidade que permita fazer face às necessidades dos doentes que deles necessitam.
Recorde-se que em 2018, Portugal ocupou o 3º lugar no ranking mundial da doação de órgãos de dador falecido, a seguir a Espanha e à Croácia, com 33,4 dadores por milhão de habitantes (pmh). Em 2019 tivemos 33,8 dadores pmh. A doação de órgãos (total de 430 dadores) manteve a sua tendência ascendente, com uma subida de 3,4%. As causas de morte no dador falecido foram em 80% dos casos por doença médica, das quais 82% por acidente vascular cerebral. A idade cronológica dos dadores falecidos tem sido progressivamente mais alta, tal como verificado a nível mundial, o que aumenta muito o número de órgãos com critérios marginais para doação ou já mesmo sem critérios para doação.
A doação em vida foi mais expressiva do que no ano anterior, maioritariamente de rim, regressando aos valores de excelência que se verificaram em 2017 (78 dadores). Relativamente ao dador falecido salientamos o aumento do seu número total em 1% (0,4% dadores pmh), um decréscimo de 2% no número de órgãos colhidos, aumento de órgãos transplantados (de 757 para 795), verificando-se um aumento da taxa de utilização de órgãos, de 78% para 84% face a 2018.
Foram transplantados no total (dador falecido, vivo e sequencial) 878 órgãos, mais 49 órgãos transplantados (5,9%) do que em 2018, verificando-se um aumento de 2%, 3% e 40% na transplantação renal, hepática e pulmonar, respetivamente. A nível da transplantação cardíaca e pancreática registou-se uma diminuição de, respetivamente, 12% e 29%.
Importa referir que o aumento do número órgãos transplantados poderá ter contribuído para uma ligeira diminuição (1%), comparativamente a 2018, do número de doentes que aguardavam um transplante em 31 de dezembro de 2019, totalizando 2215 (vs. 2230 em 2018). Quanto ao número de óbitos, verificou-se também uma diminuição, ainda que mais expressiva, 40% (47 vs. 31).
Ainda no contexto da atividade de doação e transplantação de órgãos, foi divulgado em linhas gerais o impacto dos primeiros meses de pandemia por SARS-CoV-2 nesta, considerando o período compreendido entre março e junho de 2020, durante o qual foram implementadas ações preventivas para mitigar os possíveis riscos para a segurança e sustentabilidade da atividade de transplantação, como a suspensão da atividade de transplantação eletiva durante a fase de mitigação, considerando sempre a proporcionalidade da evolução e epidemiologia da doença, entre outros fatores.
Em termos de doação, verificou-se uma diminuição de 55% no número de dadores falecidos de órgãos (121 dadores em 2019 vs. 59 em 2020), assim como no caso dos dadores vivos (menos 78%) e sequenciais (menos 100%).
Apesar de ser ter verificado um decréscimo de 51,9% na colheita de órgãos provenientes de dador falecido durante o período em análise (337 órgãos colhidos em 2019 vs. 162 em 2020) e de 49,5% no número de transplantes de órgãos provenientes deste tipo de dador (279 vs. 141), verificou-se um aumento da taxa de utilização dos órgãos para 87% (vs. 83% em 2019).
Relativamente ao número total de transplantes nacionais, que englobam todos os órgãos provenientes de dador falecido, vivo e sequencial, verifica-se uma diminuição de 52% face a igual período de 2019 (307 vs. 147).
Por fim, o encerramento da cerimónia contou com uma mensagem do Secretário de Estado da Saúde, Dr António Lacerda Sales.