O primeiro transplante renal cruzado internacional realizado em Portugal aconteceu uns dias antes do Decreto do Estado de Emergência, a 12 de março de 2020. Os pares implicados no cruzamento, do Centro Hospitalar Universitário do Porto e da Fundación Puigvert de Barcelona, fizeram teste à COVID-19, antes do cruzamento, com resultado negativo.
Um dos marcos da doação em vida em Portugal foi a criação do Programa Nacional de Doação Renal Cruzada em 2010. Mais de 120 pares dador-recetor participam neste programa, que se baseia no intercâmbio de rins de dadores vivos entre dois ou mais pares que não são compatíveis entre si. Desde o seu início, 24 doentes beneficiaram, foram transplantados ao abrigo deste programa em cadeias de 2 ou 3 pares.
O transplante renal cruzado é uma modalidade terapêutica bem desenvolvida em países com elevada atividade de transplante renal de dador vivo, como é o caso da Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Estados Unidos, Holanda ou Reino Unido, que realizam este tipo de procedimentos há muito tempo com excelentes resultados.
O correto funcionamento do Programa baseia-se num Registo de pares dador-recetor incompatíveis associado a um algoritmo matemático que permite ao IPST, a cada 3 meses, realizar combinações de pares compatíveis. Está também sustentado num protocolo específico de atuação e uma cooperação constante com os peritos nomeados para este programa no IPST, os nefrologistas e urologistas das equipas de transplante renal, os laboratórios de histocompatibilidade e os Gabinetes Coordenadores de Colheita e Transplantação (GCCT). Tudo associado a um complexo processo logístico com a colaboração da Força Aérea Portuguesa e da Guarda Nacional Republicana.
Ao longo do tempo o programa tem-se desenvolvido, adaptando-se à complexidade dos doentes. A sua internacionalização ocorreu ao abrigo da South Alliance for Transplants, envolvendo os pares dador-recetor de Portugal, Espanha e Itália.
Com a internacionalização do Programa pretende-se aumentar a possibilidade dos pares dador-recetor, incluídos nos registos nacional de transplante cruzado, encontrarem uma combinação adequada. Quanto mais pares dador-recetor participarem num cruzamento, maior a sua heterogeneidade genética, maiores são as opções para efetivar a doação e o intercâmbio renal.
Este intercâmbio contou com a total colaboração entre o IPST, a Organización Nacional de Trasplantes (ONT), o GCCT do CHUP, das equipas médicas, dos hospitais que participaram no cruzamento, e da Força Aérea Portuguesa que fez o transporte dos órgãos do Porto para Barcelona e de Barcelona para o Porto.
Uma aeronave C-295M, da Esquadra 502 – “Elefantes”, descolou da Base Aérea N.º 6, Montijo, às 09h35 em direção ao Aeroporto Sá Carneiro, Porto, onde aterrou pelas 10h25. Recolhido o par do CHUP descolou com destino a Barcelona onde aterrou, no Aeroporto El Prat, pelas 13h50, hora portuguesa. Com o par da Fundación Puigvert a bordo, regressou ao Porto, onde aterrou às 16h35, horas locais.
Tanto os dadores como os recetores envolvidos neste cruzamento estão bem de saúde.